Esta plaquete nasceu do silêncio.

Não do silêncio vazio, mas daquele que é cheio de vida: o som do riacho na pedra, a pintura que a chuva faz no céu, o pensamento que surge diante de uma estante de livros. Senti a necessidade de apanhar esses "cacos", esses fragmentos miúdos do cotidiano, e ver que poesia eles formavam juntos . São escritos que me fizeram companhia nos dias em que eu precisava mais escutar do que falar.

A obsessão que costura esta plaquete é encontrar o império no campo, como diria Pessoa na epígrafe que escolhi . É uma busca pela poesia que não grita, mas se insinua nos vãos da vida. Acredito que o sentido não está nos grandes acontecimentos, mas na nossa capacidade de perceber a sinfonia dos grilos, de sentir a presença de Iansã numa tempestade ou de reconhecer a nossa própria saga existencial nos pequenos desafios. A obra é uma celebração do miúdo.

A estrutura em três partes foi uma forma de organizar as diferentes texturas da existência. As "prosas miúdas" são os momentos de imersão, as cenas que observei e vivi. As "algumas mudas" são como sementes poéticas, pensamentos que brotaram de repente, curtos e diretos. E a "pequena saga existencial" é a tentativa de olhar para a linha do tempo, de conectar os pontos dessa jornada. A forma da plaquete reflete o ritmo da própria vida: momentos de fluxo, de faísca e de reflexão.

Se houvesse uma porta de entrada para esta plaquete, seria a primeira prosa, "um vão na vida". Ali está a essência de tudo: a busca por um espaço de silêncio em meio ao caos, a mente que se cansa de pensar e a redescoberta da sinfonia do mundo natural. Aquele momento, deitado na pedra do riacho, é o gesto fundador de toda a obra: parar, escutar e deixar que a poesia que já existe no mundo nos atravesse .

A voz que fala aqui é a de alguém que caminha de ouvidos abertos. É uma voz que se cala para poder escutar o que o riacho, a chuva e o silêncio têm a dizer. Ela confessa sua angústia com a falta de tempo para ler, seu medo na tempestade, suas lutas existenciais . É uma voz que não tem respostas prontas, mas que encontra na atenção ao presente e na escrita uma forma de continuar.

Minha esperança, com esta plaquete, é que ela funcione como uma companhia. Que o leitor, ao percorrer estas páginas, se sinta menos só em seus próprios silêncios. Que ele reconheça a poesia que também habita seus dias, nos seus gestos miúdos. Não é uma obra para decifrar, mas para sentir. Que ela seja, como eu desejei no prólogo, uma fresta de vento no calor da alma.

Hoje, vejo Prosas miúdas, algumas mudas como um exercício de atenção. Ela me ensinou a importância de desacelerar e a encontrar a matéria poética no que está mais próximo. Foi um lembrete de que, antes de construir qualquer teoria, é preciso deitar na pedra do riacho e simplesmente escutar. É a minha plaquete mais terrena, mais sensorial, e talvez por isso, uma das mais necessárias para mim.

Vou adorar dividir estas minhas miudezas existenciais com você.

__

@giovanimiguez

Compartilhe este artigo

VAMOS CONVERSAR?

Fale comigo para adquirir livros, para contratar oficinas ou palestras e bate-papos sobre leitura, poesia e biblioterapia.

CONHEÇA MEU TRABALHO!
Giovani Miguez

SOBRE O AUTOR

Giovani Miguez

Sou poeta, escritor e pesquisador. Nasci em Volta Redonda, mas vivo na cidade do Rio de Janeiro. Sou autor de mais de 20 livros. Possuo formação em Gestão Pública com extensão em Jornalismo de Políticas Públicas, doutorado e mestrado em Ciência da Informação, além de especializações em Sociologia e Psicanálise e formação em Biblioterapia e Mediação de Leitura. Atualmente, investigo temas relacionados ao trabalho, corpo e cuidado, além do papel da leitura como prática de cuidado de si, do outro e do mundo e como estratégia para o fortalecimento do indivíduo e dos laços sociais.

Posts Recomendados