Esta plaquete nasceu de uma necessidade de voltar ao começo de tudo: o corpo.
Percebi que, antes de qualquer ideia, existe o corpo que sente; antes de qualquer palavra, existe a carne que respira. Eu percebi que, para falar sobre a existência, precisava primeiro entender nosso endereço mais fundamental no mundo. Corpo poema é, portanto, minha tentativa de criar uma cartografia poética desse território primeiro, de explorar essa matéria viva onde a alma se entranha e o mundo nos toca.
Olhando para o conjunto agora, vejo que eu estava obcecado por uma única pergunta: o que é um corpo? E a resposta que a poesia me ofereceu é que ele nunca é uma coisa só. É, paradoxalmente, o palco de nossas dores mais profundas e de nossos prazeres mais libertadores. É um arquivo de memórias, onde a história de nossas dores e alegrias fica inscrita. E, tragicamente, é também um alvo para o poder, um território que o espelho social, as normas de gênero e os ideais da mídia tentam a todo custo colonizar e padronizar. A obra inteira é uma meditação sobre essa dualidade: o corpo como templo sagrado e, simultaneamente, como campo de batalha.
A escolha por uma estrutura fragmentada, com poemas não tão longos e pílulas poéticas, não foi um acaso. Eu precisava que o leitor sentisse o corpo em suas diversas texturas. O corpo não é um monólito; é um mosaico de sensações, histórias, cicatrizes e potências. Um poema como "corporalidade" tenta ser um mergulho lírico nos sentidos, enquanto a série "poéticas do corpo" funciona como flashes, instantâneos das maneiras como o corpo é socialmente construído e significado. A forma da plaquete, portanto, tenta espelhar essa complexa e multifacetada realidade corporal.
Talvez o poema que melhor sirva como porta de entrada seja justamente "corporalidade". Ele contém a tese central que costura toda a plaquete: a de que a alma não está aprisionada no corpo, mas, ao contrário, é libertada por ele. É através dos sentidos, do toque, do ardor, do gosto, que a vida se revela em sua plenitude. Esse poema é o meu manifesto de que a experiência corporal, com toda a sua fragilidade e imperfeição, é o que nos torna, enfim, seres completos.
A voz que fala nestes poemas se alterna. Às vezes, é um "eu" que reflete, mas na maioria das vezes é um olhar que tenta dar testemunho, especialmente aos corpos que a sociedade tornou invisíveis: o da mulher preta sem nome , o dos meninos que se amam às escondidas , o do jovem severino que morre de frio. É a minha tentativa de praticar o que defendo em meu ateliê: usar a poesia como um ato de cuidado, de devolver a humanidade a quem ela foi negada.
Minha esperança, ao colocar estes poemas no mundo, era oferecer um espelho. Um espelho onde o leitor pudesse reencontrar seu próprio corpo, não como o ideal da mídia ou a norma social, mas como um templo singular, um arquivo sagrado de sua própria história. Como digo no prefácio, é um convite para sentir o pulsar da vida em cada verso e para buscar no amor próprio a nossa "divina libertação".
Hoje, vejo corpo poema como a fundação do meu projeto poético. Por ser a plaquete #1, ela é a placa de base. Ela me ensinou que toda poesia, por mais abstrata que seja, começa e termina na experiência concreta do corpo, da carne, mesmo sendo pura metafísica.
É o meu manifesto de que o ato poético é, antes de tudo, um ato de atenção à vida que pulsa, resiste e floresce em cada corpo.
Para conhecer Corpo poema, visite meu site.
Ficarei lisonjeado com sua leitura.
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