Esta plaquete nasceu da necessidade de virar o espelho para dentro.
Depois de dialogar com outros universos, senti uma urgência de investigar o meu próprio: de onde vêm os poemas? Por que essa compulsão de escrever? Metapoéticas é a minha tentativa de mapear esse território íntimo, de dar nome às dúvidas e ao sacerdócio que é o ato de escrever. É o meu diário de bordo.
A obsessão que costura esta obra é a valorização do gesto sobre o objeto. Eu queria desmontar a ideia do poema como um monumento perfeito e mostrá-lo como ele realmente é para mim: uma cicatriz honesta, um remendo, uma sangria que estanca no papel. O que importa não é a chegada, mas o caminhar; não é o poema publicado, mas o ato de escrever que, para mim, abre a porta do ser .
A forma híbrida, misturando poemas e fragmentos em prosa, foi a única maneira que encontrei de ser fiel ao tema. A vida poética não é feita só de versos lapidados; ela é feita de dúvidas, de anotações, de "remendos". A plaquete é, portanto, um espelho da minha própria criação, onde os poemas são as ilhas e os fragmentos em prosa são as águas que as conectam, revelando um âmago est(ético).
Se eu tivesse que escolher um texto como chave para esta plaquete, seria o pequeno poema "porta". Nele, está a síntese de tudo: "publicar até importa / mas, é o ato de escrever / que abre a porta" . Toda a minha reflexão sobre a poesia como processo, função e fatalidade está contida nesses versos. É a minha declaração de fé no fazer poético.
A voz que fala aqui sou eu, despido de qualquer personagem. É a voz que confessa escrever olhando para o próprio umbigo , que admite suas inseguranças, que questiona a própria habilidade e vê na metapoesia um refúgio. Não é uma voz que busca impressionar, mas se documentar, se registrar como um "animal poético" que sou.
Minha esperança, com esta plaquete, era convidar o leitor para o meu ateliê. Não para mostrar obras prontas na parede, mas para sentar no chão e ver as ferramentas, os rascunhos, os "remendos". Queria partilhar a ideia de que a poesia é um ato humano, uma forma de nos costurarmos, de nos reconstruirmos através da palavra, mesmo quando ela parece falhar.
Hoje, vejo Metapoéticas como uma plaquete de autoconsciência. Foi um passo fundamental para entender o porquê de eu continuar escrevendo. Ela me ensinou que a vulnerabilidade é uma força e que o processo é o verdadeiro poema. É a minha reafirmação de que o ato poético é, em sua essência, um ato de cuidado comigo mesmo e com a existência.
E aí, que tal conhecer um pouco sobre minha relação com escrita?
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