Menino negro extasiando lendo poesia.


A poesia é a essência do encontro


A poesia, longe de ser mera tinta sobre papel, é um acontecimento. Um fenômeno que irrompe no silêncio da leitura e faz do leitor o seu palco. Ela não jaz inerte, mas desperta na interação, no diálogo que se estabelece entre o signo impresso e a alma que o acolhe. Antes de ser texto, a poesia é evento. Antes de ser letra, é um sopro que se expande, um corpo que se forma na comunhão do livro e do ser.

Esse encontro, no entanto, não é fortuito. O leitor, ao se debruçar sobre o poema, o faz com uma consciência que se lança ao mundo, um ser-no-mundo que busca o espelho da sua própria existência. A paisagem que se desenha nos versos é, em verdade, a paisagem da alma. Não há passividade nesse ato. O leitor não é um mero decifrador de códigos, mas um co-criador, um artífice que, com suas memórias e emoções, ergue os significados. A poesia, assim, não é algo que se consume, mas algo que se vive. Uma via de mão dupla que nos leva a um entendimento mais profundo de nós mesmos e do nosso lugar no vasto universo.

O poema, nesse processo, é sentido, é tocado. Sua corporeidade não se resume à materialidade da página, mas se manifesta na sensorialidade da linguagem. O ritmo que embala as palavras, a sonoridade que ecoa na mente, as pausas que se fazem silêncio e respiram na leitura – tudo isso compõe uma experiência que é quase tátil. A poesia não se contenta em ser apenas vista; ela é ouvida, sentida no movimento que acompanha o ritmo dos versos. A forma como as palavras se arranjam no espaço da folha também dança para os olhos, sugerindo caminhos, aberturas, e até mesmo vazios. O sentido não é apenas uma questão de lógica ou semântica; é uma experiência total, que envolve a audição, a visão e a cadência do corpo.

E é nessa dança que a intencionalidade da leitura se revela. A consciência do leitor não é um campo neutro. Ela se aproxima do poema com um anseio, uma expectativa, uma entrega. O poema, por sua vez, responde a esse chamado. Não como um oráculo que dita verdades fixas, mas como um convite. Ele "chama" a consciência para certas imagens, para certos afetos, para certas reflexões. É nesse diálogo de intenções que o poema ganha vida e cria um mundo próprio que não existe fora desse encontro. O poema não "significa" algo, mas "abre" um campo de possíveis, de infinitos sentidos, que o leitor, em sua singularidade, explora e descobre.

A poesia, então, é a promessa de uma jornada, a dádiva de um mundo que se constrói no instante de uma leitura. É a revelação de que, entre as palavras, reside a essência de um encontro.

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@giovanimiguez

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Giovani Miguez

SOBRE O AUTOR

Giovani Miguez

Sou poeta escritor e pesquisador. Nasci em Volta Redonda, mas vivo na cidade do Rio de Janeiro. Sou autor de mais de 20 livros. Possuo formação em gestão pública com extensão em Jornalismo de Políticas Públicas, doutorado e mestrado em Ciência da Informação, além de especializações em Sociologia e Psicanálise e formação em Biblioterapia e Mediação de Leitura. Atualmente, investigo temas relacionados ao trabalho, corpo e cuidado, além do papel da leitura como prática de cuidado de si, do outro e do mundo e como estratégia para o fortalecimento do indivíduo e dos laços sociais.

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