Borboleta, pardais e poemas se encontram em um espelho, em uma jornada poética surreal.


o verso se dissolve no outro, / e o poema, em sua brevidade, / se torna espelho. (julho de 2024)


O POUSO DA BORBOLETA

uma borboleta pousou

no meu copo

enquanto eu, maravilhado

observava seu corpo,

e nela buscava

reencontrar as cores que perdi

enquanto lamentava

os momentos que em que decidi

não voar.

a pequena fada,

enquanto permanecia,

ali, pousada,

balançava lentamente suas asas

provocando um vento leve,

em encantamento breve,

mas que permaneceria eterno,

no meu pensar.


CENTELHAS

se vaga-lumes ou centelhas

importa mesmo que cubram-me

tal qual telhas,

protegendo-me da escuridão,

e sob elas eu encontre razões

para validar os tantos senões

que dobram-me

diante desta solidão

sem proteção,

sem telhas.


AVES VAGABUNDAS

amo me inspirar nos pardais,

pois são como pequenos barcos

ancorados no cais,

flutuando ao sabor das marés,

sem fardos,

apenas produzindo espumas

com suas plumas,

sendo aquilo que se é:

aves vagabundas

quaisquer.


A INTELIGÊNCIA DOS PARDAIS

pardais me perseguem,

e com frequência

conseguem,

graças a tamanha resiliência,

me levar a aceitar

que, mais do que se imagina,

naquelas pardas levezas

há, com muita certeza,

uma inteligência

que não só rapina restos,

mas que, divina,

e no ato de rapinar,

empreende manifestos

que, diante do meu olhar,

divinam.


ESTRELA AZUL

sustente teu caos,

pois dele emergirá tua Naos,

tua mais brilhante ideia

aquela que veloz navega,

e carrega

um ponto de luz

que, azul, pela escuridão

como uma imensa nau

pela via láctea vagueia

e, vagueando, em solidão

tua imaginação

norteia.


AVE ARISCA

o faisão pousa na soleira.

o dia está ensolarado,

mas frio.

a ave, arisca,

faminta,

olha para o molho de verduras,

grita sua fome

e some –

não se arrisca.


AVES EM CIRANDA

na varanda,

aves em ciranda

se alimentam, e as crianças

se deliciam com tanta

beleza.

a cada ave que canta,

tenho certeza:

a felicidade dança

com a leveza

de uma criança.


* Os poemas aqui reunidos, ainda inéditos, compõe o manuscrito “Poéticas do cuidado, das brevidades e das suturas”sem previsão de publicação.

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@giovanimiguez

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Giovani Miguez

SOBRE O AUTOR

Giovani Miguez

Poeta, escritor (mais de 20 livros publicados) e pesquisador. Doutor e mestre em Ciência da Informação (IBICT/UFRJ). Especialista em Psicanálise e Psicologia. Graduado em Gestão Pública com Extensão em Jornalismo de Políticas Públicas. Analista de Ciência e Tecnologia na Coordenação de Ensino do Instituto Nacional de Câncer (INCA). Atualmente, além das pesquisas em Filosofia da Ciência da Informação (Antropologia Filosófica e Documentalidade), pesquisa também sobre Cuidado Narrativo, Cuidado Oncológico, Trabalho em Saúde e Informação em Saúde.

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