“A casa protege o sonhador.”
— Gaston Bachelard, A poética do espaço
a casa respira. devagar.
madrugada colorida. lâmpada baixa.
no chão, brinquedos viram constelações.
carrinhos: peixes de luz.
blocos: pequenas cidades.
um urso, montanha quieta.
boneca, farol de vidro.
levanto o pé.
não piso nas estrelas.
o tapete é céu raso.
pó em cometas.
não sou o que larguei.
sou o que junto.
um minuto de plástico na mão.
rodas ainda giram no peito.
ordenar é chuva fina.
cheiro de memória.
demoro no gesto.
o gesto desenha órbitas.
fica um rastro.
nele, os meninos dormem.
o jogo continua.
mudamos de tabuleiro.
a sede, não.
o corpo aprende regras frias.
o riso desaprende.
arrumo devagar.
para não apagar a infância
que acende o meio da sala.
__