Paisagem com flor amarela vibrante em primeiro plano e mar calmo ao fundo sob céu azul claro

porque poesia não se gasta…


talvez a poesia

seja do mesmo tecido

dos sonhos —

não se gasta no uso,

apenas no esquecimento.


há quem a guarde

como flor rara

num vaso de vidro,

viva porque intocada,

imune ao toque

de todas as mãos.


se todos a tivessem,

talvez seu perfume

se perdesse no ar,

misturado ao cheiro

das ruas.


mas há quem a veja

como mar:

mesmo quando todas as cidades

tocam sua beira,

ele é ainda mar —

imenso, salgado,

onda que nunca

se repete.


o risco não está

no amor de todos,

mas no olhar apressado

que a reduz a ornamento;

não é a multidão no portão,

mas a pressa em cruzá-lo

sem ouvir o silêncio.


no fundo, a poesia

vive dessa tensão:

flor que precisa de sombra

para não murchar,

mar que recebe todos os corpos

sem perder a própria vastidão.


porque poesia não se gasta —

o que se gasta

é o olhar.


___

@giovanimiguez

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Giovani Miguez

SOBRE O AUTOR

Giovani Miguez

Poeta, escritor (mais de 20 livros publicados) e pesquisador. Doutor e mestre em Ciência da Informação (IBICT/UFRJ). Especialista em Psicanálise e Psicologia. Graduado em Gestão Pública com Extensão em Jornalismo de Políticas Públicas. Analista de Ciência e Tecnologia na Coordenação de Ensino do Instituto Nacional de Câncer (INCA). Atualmente, além das pesquisas em Filosofia da Ciência da Informação (Antropologia Filosófica e Documentalidade), pesquisa também sobre Cuidado Narrativo, Cuidado Oncológico, Trabalho em Saúde e Informação em Saúde.

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