A escrita criativa não é luxo, nem ornamento.
É ponte silenciosa entre dois mundos: o que pulsa dentro e o que se oferece fora. Entre o abismo íntimo e a partilha social, a palavra se torna travessia. Mais do que estética, é gesto de cuidado. Escrever é colocar-se em risco, experimentar a linguagem como quem abre frestas na própria pele.
No Ateliê Po(ético), este meu empreendimento autoral, a escrita é laboratório de presença. Neste meu cantinho, a literatura não é apenas arte, mas também exercício de escuta e de autoconhecimento. Cada texto pode ser espelho, escudo ou abraço. Cada voz, um território que se abre.
Há quem pergunte: o que significa escrever criativamente? Não é seguir roteiros rígidos, tampouco buscar fórmulas prontas. Escrever assim é aceitar o caos, brincar com a liberdade, mergulhar no risco. É, sobretudo, não temer o inacabado. Técnicas existem — construir personagens, criar cenários, trabalhar conflitos, lapidar diálogos —, mas elas não aprisionam: apenas oferecem ossatura para que a vida respire no papel.
A literatura, quando usada como prática de mediação e cuidado, torna-se também terapêutica. Escrever um diário de quarentena, uma carta nunca enviada, um conto sobre perdas: tudo isso é organizar o caos das emoções. Em tempos de excesso de informação, narrar é reaprender o tempo interno. Ali, onde a ansiedade encontra respiro, a palavra torna-se bálsamo.
Mas não se escreve apenas sozinho. Em grupo, as narrativas revelam múltiplos pontos de vista e constroem redes de afeto. Oficinas, clubes de leitura, rodas de conversa: cada espaço é também um território de encontro. Na diversidade de vozes, nasce a empatia. A leitura amplia horizontes; a escrita devolve sentido. Uma completa a outra.
E há bloqueios, claro. O silêncio diante da página em branco. A sensação de não ter nada a dizer. Mas até isso pode ser matéria: rabiscar sem destino, trocar a caneta pelo gravador, escrever qualquer coisa — tudo pode abrir a passagem. Escrever, afinal, é insistir. Continuar.
Na avalanche de dados que nos atravessa, a autenticidade pode ser um ato de resistência. Um texto honesto — mesmo breve — tem força de filtragem, devolve densidade ao existir. Palavras certas, no tempo certo, são capazes de curar.
No fim, escrever é lançar rastros. Nem sempre eles se completam; alguns permanecem abertos, como cicatrizes. E tudo bem. A literatura não é a busca de perfeição, mas de presença. Aqui, neste Ateliê Po(ético), o convite é este: descobrir como as palavras podem ser cuidado de si, cuidado do outro e, quem sabe, futuro partilhado.
E aí, vamos escrever juntos?
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