Mãos escrevendo em caderno com caneta, livro aberto e lâmpada acesa ao fundo


Quando penso em literatura como um caminho para o cuidado, percebo o que talvez poucos percebam: o quanto as formas literárias são potentes nesse processo. Entre elas, as crônicas, os contos e os ensaios – filosóficos ou poéticos – se destacam como práticas que promovem ao menos em mim, não só autoconhecimento, mas também fortalecimento de laços humanos e sociais.

Diferenças e intersecções: o que cada gênero provoca

Às vezes uma história curta pode transformar um dia inteiro.

Crônicas captam o cotidiano; elas registram o instante, quase como uma fotografia emocional. Em oficinas de escrita, um exercício simples pode ser pedir a alguém para narrar a cena comum de um ônibus lotado, buscando nela o detalhe afetuoso ou insólito. O leitor se vê ali, encontra identificação, e essa aproximação com o real suaviza distâncias.

Contos usam a imaginação para elaborar conflitos, medos, descobertas. Uma sala de aula pode ler e discutir contos em voz alta: os participantes se conectam, trocam memórias, chegam a novos entendimentos.

Uma boa história inventa espaço para nossas próprias perguntas.

ensaios filosóficos tornam-se instrumentos para a reflexão. Um breve texto questionando, por exemplo, o sentido do tempo, pode ser ponto de partida para um círculo de conversa, ativando o pensamento e a escuta sensível. Nesses encontros, geralmente misturam-se certezas e dúvidas.

Ensaios poéticos combinam reflexão e lirismo. Não se fixam apenas no argumento lógico, mas também na beleza e na densidade do não-dito. Ao trabalhar em grupo a produção desses textos, abre-se espaço para a vulnerabilidade e o cuidado mútuo: cada expressão é acolhida, escutada, reelaborada junto.

Grupo de pessoas reunidas em círculo, lendo e escrevendo juntos durante uma oficina literária

A literatura como cuidado: práticas e exemplos

A ideia de utilizar textos – sejam relatos do cotidiano, narrativas fantásticas ou ensaios poéticos – como prática de cuidado não é recente. Oficinas de leitura compartilhada e grupos de escrita terapêutica têm mostrado que, ao ler e criar textos, as pessoas podem cuidar de si mesmas e dos outros. Em certos encontros, atividades simples como escrever cartas (práticas epistolares) ou pequenos diários geram escuta e acolhimento; a escrita, segundo análise recente sobre a produção de cuidado, transforma-se em gesto ético e transformador.

A biblioterapia – leitura dirigida para o bem-estar – se vale também desses desses gêneros. Nela, o mediador lê em voz alta um conto filosófico, pede reação instantânea, discute, acolhe dores e alegrias. O texto se torna ferramenta, mas a experiência é coletiva e viva.

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Desenvolvimento humano, social e político

Quando a literatura invade as relações cotidianas, ela funda novas perspectivas. Práticas literárias estão diretamente ligadas ao desenvolvimento social e humano. Grupos de leitura e escrita fortalecem o senso de pertencimento e possibilitam o exercício da empatia.

Não há algo fechado: às vezes, um poema escrito em sala provoca discussão sobre políticas públicas. Um conto, lido em grupo, vira espelho para inquietações íntimas e sociais. Estudos sobre literatura e currículo mostram a importância dessas práticas na formação de valores.

Ler e escrever é também cuidar de si, do outro e do mundo.

Nisso tudo, o papel do poeta ou escritor é menos de protagonista e mais de mediador. Ele conduz a experiência, propõe o encontro. Provoca o diálogo – mas também silencia, ouvindo. Permite que cada voz se perceba parte de algo maior e mais humano.

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Desse modo, contos, crônicas, ensaios filosóficos e poéticos são portas para o cuidado. Na página escrita e na partilha oral, descobrem-se possibilidades de escuta, diálogo e transformação. Talvez seja só isso o sentido das práticas literárias: criar abrigos de palavra para o real, onde todos possam, ao menos por instantes, se sentir cuidados.

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@giovanimiguez


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Giovani Miguez

SOBRE O AUTOR

Giovani Miguez

Poeta, escritor (mais de 20 livros publicados) e pesquisador. Doutor e mestre em Ciência da Informação (IBICT/UFRJ). Especialista em Psicanálise e Psicologia. Graduado em Gestão Pública com Extensão em Jornalismo de Políticas Públicas. Analista de Ciência e Tecnologia na Coordenação de Ensino do Instituto Nacional de Câncer (INCA). Atualmente, além das pesquisas em Filosofia da Ciência da Informação (Antropologia Filosófica e Documentalidade), pesquisa também sobre Cuidado Narrativo, Cuidado Oncológico, Trabalho em Saúde e Informação em Saúde.

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